A Comissão Nacional da Verdade (CNV) afirmou
nesta quinta-feira, 27, que o ex-deputado Rubens Paiva foi assassinado,
após sessões de tortura, pelo então tenente Antônio Fernando Hughes de
Carvalho (já falecido).
O crime ocorreu em 21 de janeiro de 1971, nas
dependências do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 1º
Exército, na Rua Barão de Mesquita, no bairro da Tijuca, zona norte do
Rio.
A única informação que falta para a comissão encerrar o caso Rubens
Paiva é localizar o paradeiro do corpo do ex-parlamentar.
"Diante
dos documentos e depoimentos que a comissão já colheu, podemos dizer
que Hughes foi o autor da morte de Rubens Paiva.
Ainda não temos outros
nomes (de pessoas que teriam participado das torturas), mas isso não
quer dizer que Hughes agiu sozinho.
Vamos continuar investigando", disse
a conselheira Rosa Cardoso, em entrevista coletiva, no Rio.
Um
militar que servia no DOI na época da morte de Paiva, identificado pela
Comissão como "agente Y", revelou em depoimento que viu, por meio de uma
porta entreaberta, o interrogador Hughes "utilizando método não
tradicional de interrogatório" em uma pessoa de meia idade.
O "agente
Y", então, foi à sala de seu superior, capitão Ronald Leão, e os dois
decidiram relatar pessoalmente a tortura ao comandante do DOI, o então
major José Antônio Nogueira Belham (atualmente general reformado),
"alertando-o para as possíveis consequências".
O torturador foi
descrito pelo "agente Y" como um "militar loiro".
Na última
segunda-feira, 24, o "agente Y" reconheceu, por foto, o torturador de
Rubens Paiva como sendo o tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho.
A
descrição do torturador corresponde com a foto (de um homem loiro de
olhos claros).
O reconhecimento foi noticiado na edição desta quinta do
jornal "O Globo".
Segundo o jornal, o "agente Y" seria o coronel
da reserva Armando Avólio Filho, ex-integrante do Pelotão de
Investigações Criminais da Polícia do Exército (PIC-PE).
A Comissão da
Verdade informou que estava impedida de revelar a identidade do "agente
Y" porque ele pediu para ser mantido no anonimato.
A Comissão vai
solicitar ao presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves
(PMDB), a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
para convocar para depor o general reformado Belham, a fim de que ele
revele onde está o corpo do ex-deputado Rubens Paiva.
Belham comandou o
DOI do 1º Exército entre novembro de 1970 e maio de 1971.
Paiva deu
entrada na unidade em 20 de janeiro de 1971 onde foi torturado e,
segundo investigações da CNV, foi morto no local no dia seguinte.
Entretanto,
a CNV possui três provas de que Belham estava, sim, na unidade na data
da morte do ex-deputado.
A primeira é uma cópia da folha de alterações
funcionais de janeiro de 1971, que mostra que o então major recebeu
diária de alimentação no dia 20 daquele mês, referente a "deslocamento
de caráter sigiloso".
A segunda comprovação é uma lista dos bens de
Rubens Paiva recolhidos pelo DOI, no dia em que ele deu entrada na
unidade.
No item 2 do documento, referente aos documentos pessoais de
Paiva, uma observação manuscrita diz que "2 cadernos de anotações
encontram-se com o MAJ. BELHAM".
E a terceira prova são os
depoimentos do "agente Y" e do coronel Ronald Leão, que revelaram à CNV
que, em 21 de janeiro de 1971, alertaram o então major Belham sobre a
tortura contra Rubens Paiva.
Leão faleceu no início deste ano.
Em
depoimento à CNV em 13 de junho do ano passado, Belham disse que estava
de férias naquela ocasião, e que não tem qualquer conhecimento do que
se passou com Paiva nas dependências do DOI.
Em relação ao pagamento da
diária, Belham alegou que houve erro do Exército.
"A alegação do
general de que há erro em sua folha de alterações é muito pouco crível.
Ele poderia fazer um gesto de grandeza em pôr um ponto final nessa
história.
Vamos sugerir que a CPI seja de curta duração e tenha um
objetivo específico, que é descobrir o paradeiro do corpo de Rubens
Paiva", afirmou Pedro Dallari, coordenador da Comissão da Verdade.